2. ASPECTOS HISTÓRICOS

 

O surgimento da técnica Steel Frame está diretamente relacionado ao desenvolvimento da industrialização da construção civil, assim como ao grande aumento da pré-fabricação nesse setor a partir da 2ª Guerra Mundial. A construção em panéis autoportantes de aço surgiu a partir da técnica do Wood Frame, que tem como matéria prima a madeira e surgiu no sec. XIX.  Historicamente, no entanto, esse processo pode ser analisado de forma mais ampla, como sugere Ordonez, pois os resultados atuais da industrialização remontam às primeiras sistematizações da engenharia , desde a revolução neolítica e é interessante compreender esse panorama a partir da idéia de racionalização.

As primeiras casas em madeira transportadas para o local de montagem que temos notícia surgiram ainda no período colonial, como os casos das casas pré-fabricadas em 1578  levada da Inglaterra ao Canadá  e o da Great House, construída por Edward Winslow em 1624, levada da Inglaterra até Massachussets e depois remontada em outros lugares. No entanto, nesse período, apesar de já demonstrar facilidades importantes, as casas pré-fabricadas eram ainda casos pontuais. Somente com a Revolução Industrial e com a expansão nos EUA é que os sistemas pré-fabricados ganham impulso.

As estruturas tipo Wood Frame se generalizaram com a conquista do oeste dos EUA. Com a febre do ouro surgiram novos centros como Chicago e São Francisco, que passam de pequenos povoados a grandes cidades em apenas um ano. O método Wood Frame, que consiste em um esqueleto de ripas de madeira, foi possível a partir de inovações nas maquinarias e serrarias mecânicas, que permitiram obter secções de madeira muito finas e com maior rapidez. Desse modo, a introdução de técnicas industrializadas permitiu uma construção mais barata, capaz de ser facilmente montada e desmontada, substituindo o emprego dos carpinteiros por mão de obra não especializada.

Há controvérsias quanto o surgimento da técnica de Wood Frame, enquanto alguns estudiosos consideram como um processo sendo impossível atribuir a um autor, a Igreja de Santa Maria em Chicago é conhecida como marco histórico e como a primeira obra em Wood Frame. Feita por George W. Show em julho de 1833, a igreja ainda foi desmontada e remontada três vezes. A partir de então as construções desse tipo foram aplicadas ininterruptamente até o ano de 1872, quando um grande incêndio destruiu todo o centro de Chicago. Como conseqüência, passou-se a investir nas novas técnicas que se desenvolviam nessa época, como as estruturas em concreto e ferro fundido. O Wood Frame, no entanto, continuou a ser utilizado até hoje, mas especialmente na construção de casas unifamiliares. Dentro desse panorama podemos destacar as casas feitas por Richard Neutra no Texas.

O surgimento do Steel Frame ao contrário do ocorrido com o Wood Frame teve que esperar o desenvolvimento das técnicas descobertas na revolução industrial, pois enquanto a madeira sempre foi uma das principais matérias primas na construção, o manuseio do aço só tornou-se viável muito tempo mais tarde. A primeira construção feita em estrutura metálica foi a ponte sobre o rio Severn de ferro fundido em 1779, a partir de então o ferro foi amplamente utilizado, diminuindo o tempo de montagem e substituindo a madeira em muitas obras. Foi James Borgadus (1800 – 1874), quem patenteou o primeiro sistema construtivo a base de elementos pré-fabricados como vigas, pilares e painéis de vedação em ferro fundido, bastante similar ao que utilizamos até hoje.

A pouca resistência da fundição à tração e ao fogo faz com que o ferro fundido passe a dar lugar ao aço laminado a partir de 1864  com a introdução do forno Siemens-Martin para produção de aço. Assim, é dado mais um grande passo na fabricação industrial, uma vez que o aço laminado permite um sistema construtivo aberto, com a possibilidade de armazenar os elementos sem conhecer a obra os quais serão destinados e com maior rendimento na produção. No entanto, é só com a tecnologia dos aços galvanizados que o aço começa gradualmente a substituir a madeira nos painéis autoportantes, por volta da metade do século XX, quando as siderúrgicas americanas começaram a disponibilizar aços com menores espessuras e maior resistência à corrosão.

A partir da 2 Guerra Mundial é que os pré-fabricados ganham bastante força, para tentar suprir o déficit habitacional. Vários métodos são usados e desenvolvidos nessa época a fim de aumentar a produtividade, a racionalização do projeto e diminuir o tempo de construção. Devido a globalização dos mercados começou um esforço ainda na década de 70 para padronizar as medidas da pré-fabricação. A adoção mundial do Sistema Internacional de medidas cujo módulo fundamental é 600mm e os múltiplos de 3, só ocorreu de fato na década de 1980 após  pressão japonesa.

O emprego massivo do Steel Frame ocorre somente a partir da década de 1990, impulsionado pelo aumento no preço das construções em madeira. A principal causa deu-se após os desastres naturais que assolaram os EUA, primeiro o furacão Andrew em 1992 e em 1994 o terremoto Northridge. A maioria das casas em Wood Frame mostraram-se pouco resistentes aos desastres, causando no primeiro caso o maior reembolso já pago pelas seguradoras estadunidenses e no segundo tendo 25 mortes relacionadas ao método construtivo em madeira. Assim, as companhias passaram a sobretaxar as construções em Wood Frame e subtaxar as de Steel Frame impulsionando esse mercado que passou de 500 casas construídas em 1992 para 500.000 em 2004.

No Brasil, a primeira obra em Steel Frame foi feita em 1998 pela construtora paulista Sequência, um condomínio de casas de alto padrão executado em cem dias com quase todos os componentes importados. Atualmente o mercado brasileiro desenvolveu-se bastante, tanto na procura pela técnica mas especialmente na cadeia de fornecedores: hoje os componentes são todos feitos no Brasil com garantia de qualidade e até mesmo concorrência entre empresas. Não há dados precisos quanto ao aumento do uso do Steel Frame no Brasil, no entanto, o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), que acompanha os números do aço no país, o consumo de galvanizados na construção aumentou 91% no período entre 2000 e 2008.

No país, embora o Steel Frame venha sendo mais utilizado em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, gradualmente começa a se expandir em áreas fora dos grandes centros, pois seus componentes são leves e podem ser facilmente transportados. Um exemplo são as instalações da Petrobrás no campo de gás de Urucu, no meio da Amazônia. Outra tendência é a adoção do sistema para suprir o déficit habitacional no Brasil, o que se tornou um a perspectiva possível com a nacionalização dos componentes e barateamento dos custos de produção.

Bibliografia:

BRUNA, Paulo Júlio Valentino. Industrialização da construção no Brasil: tecnologia e pré-fabricação na construção de massa. São Paulo: FAU, 1979.

EICKHOFF, Maud. A coordenação modular como instrumento para atingir a qualidade total em projetos de arquitetura. Dissertação de mestrado na FAU-USP. Orientador Prof. Dr. Paulo J. V. Bruna, São Paulo, 1997

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2008

ORDONEZ, José A. Fernandez. Prefabricacion teoria y pratica.

RISSELADA, Max (organizador). A Arquitetura de Lelé: fábrica e invenção.

Banco Nacional de Habitação e Instituto de Desenvolvimento Econômico e Gerencial. Coordenação Modular da Construção. 1976

JARDIM, Guilherme Torres da Cunha e CAMPOS – “Light steel framing: uma aposta do setor siderúrgico no desenvolvimento tecnológico da construção civil”.

SOUZA, Alexandro. Artigo encontrado em http://www.cbca-iabr.org.br/upfiles/downloads/apresent/SteelFramingCBCA.pdf

http://www.arcoweb.com.br/tecnologia/steel-framing-obra-rapida-18-01-2010.html